A proteína animal é essencial para o equilíbrio na dieta humana, garantindo junto a outros alimentos todos os nutrientes de que o corpo precisa para se manter saudável. No Espírito Santo, onde o agronegócio está presente em praticamente em todos os municípios, representando parcela importante da economia, a parceria entre pecuária e indústrias do frio tem gerado há décadas milhares de empregos para os capixabas. Mesmo o setor não estando entre as atividades de maior peso na composição da economia do Estado, apesar dos grandes desafios enfrentados em todos esses anos de história, as indústrias que lidam com o processamento de carnes bovina, suína e também de aves, conseguiram se manter no mercado, atendendo quase totalmente à necessidade de consumo da população capixaba com produtos locais de qualidade.
Há quatro décadas, uma entidade agrega essas organizações na busca por melhores condições de trabalho. O Sindicato da Industria do Frio do Estado do Espírito Santo (Sindifrio) reúne as empresas que executam as atividades que se voltem aos fins de abatedouros, frigoríficos e indústrias do frio, nas operações de abates em geral (de aves, suínos e bovinos), representando o setor frigorífico, que hoje conta com empreendimentos do ramo em todo o Estado.
Atualmente, 19 associadas fazem parte do Sindifrio, e um total de 60 empresas pagam a contribuição sindical. Elas estão instaladas em diversas regiões do Espírito Santo, onde geram aproximadamente 8 mil empregos diretos. Além disso, as atividades dos frigoríficos no Estado são responsáveis por oferecer, indiretamente, outros 28 mil postos de trabalho.
O atual presidente do sindicato, Elder Marim, ressalta que o principal mercado para o que é produzido pelas indústrias do frio capixabas, é o próprio Espirito Santo. “O principal mercado para o setor é o Estado, mas há empresas do segmento, tanto de bovinos quanto aves, que já exportam ou estão habilitadas para exportar, e ainda não exportam por falta de logística”, destaca.
Contudo, dentro do próprio mercado local, as indústrias do frio às vezes sofrem concorrência dos produtos provenientes de outros estados. “Os grandes concorrentes capixabas no setor de aves são hoje os estados do Sudeste e do Sul do país. De acordo com a oferta dessas regiões, em caso de qualquer pequena sobre, os produtores vendem o excedente para o Rio de Janeiro e o Espírito Santo”, esclarece Marim.
Segundo ele, a força da pecuária capixaba é um dos potenciais para que o setor cresça. “A criação bovina, principalmente, está presente em grande parte dos municípios do Espírito Santo. Além disso, todo pequeno produtor tem em sua propriedade ao menos uma vaca, para a produção de leite. Um dia essa vaca vai gerar bezerros, que se destinarão ao abate, e ele própria também vai ser destinada ao abate em alguma ocasião. Somo um Estado que temos condições de expandir a pecuária, que já é uma realidade entre muitos produtores. Depender de outros estados para fornecimento de proteína não é prudente para o Espírito Santo. O Estado tem que investir na atividade, para não deixar acabar”, afirma Elder Marim.
Ele explica que para fortalecer frigoríficos e abatedouros são necessários investimentos altos, inclusive em tecnologia. “Já existem tecnologias que permitem o melhor aproveitamento do processo. Hoje, as mulheres estão inseridas no mercado de trabalho e nenhuma dona de casa tem tempo para preparar a carne, e quanto mais pronto isso chegar para ela, melhor. E a tecnologia é fundamental para processar melhor essas carnes”, comenta o presidente.
Segundo Elder, alguns empresários capixabas já investem em tecnologia, mesmo que de forma isolada. “A indústria do frio está se modernizando, principalmente na área de avicultura e suinocultura, que são as duas atividades de maior industrialização e que têm um grande potencial para crescimento no Estado. Mas ficamos preocupados porque os empresários estão isolados, cada um fazendo aquilo que entende que deve ser feito dentro do seu estabelecimento”, complementa Marim.
De acordo com o Elder, no ano de 2005, o governo federal deu início a um movimento de modificação do setor, que se preparou sanitariamente para a sua internacionalização. “Foram feitos estudos junto ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e incentivado que as empresas do segmento investissem na modernização de suas fábricas. Entretanto, o estudo da cadeia produtiva como um todo, foi esquecido. Foi investido no abatedouro, mas o restante não foi concluído. Agora, em parceria com a associação dos avicultores, estamos conversando com os órgãos do governo responsáveis por dar apoio ao segmento para que de fato voltemos a nos organizar e ter um crescimento sustentável do setor”, adianta o presidente do Sindifrio.
Outros dois grandes desafios do setor de frigoríficos no Espírito Santo são compartilhados por quase todos os segmentos industriais: “Hoje, o setor possui demandas relacionadas à área tributária, e temos que conhecer melhor como elas estão interferindo no negócio dessas indústrias. Uma outra dificuldade que vemos para o setor é que os empresários não estão conseguindo manter a mão de obra nas empresas, principalmente de produção”, comenta Elder Marim.
Histórico
Em 1972, os empresários Edvaldo Siqueira Varejão, Hilário Toniato e Nadelson Ferreira comandaram uma iniciativa fundamental para a luta pela valorização da indústria do frio no Espírito Santo. Eles compunham a comissão organizadora da Associação Profissional da Indústria do Frio do Estado do Espírito Santo. A entidade, fundada em 5 de dezembro daquele ano, tinha como principal objetivo a melhor defesa dos interesses comuns do segmento.
A associação contava com a participação de diversos empresários do setor, e congregava as empresas das atividades de abate de bovinos e suínos, indústria de carnes e derivados, captura e conservação de pescado e abate de aves. Após três anos se reunindo, essas indústrias chegaram à conclusão de que poderiam dar um passo ainda mais importante, que fortaleceria a entidade e também aumentaria a representatividade do setor junto à Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes).
Por isso, em 1975, três anos após sua fundação, associação fez o pedido de investidura sindical. Nesse período, a entidade recebia novos membros, sem deixar de lado, porém, o elemento qualitativo considerado em seus trabalhos, como mostram as atas das reuniões da associação.
No dia 29 de dezembro de 1976, o pedido de investidura sindical da associação foi aprovado pelo Ministério do trabalho, transformando-a no Sindicato da Industria do Frio do Estado do Espírito Santo (Sindifrio), que teve coo primeiro presidente o empresário Hilário Toniato (in memorian). Reunidos no sindicato, ficava mais fácil para os donos de frigoríficos lidarem com questões como convenções coletivas de trabalho e dissídio coletivo.
O atual presidente, Elder Marim, acredita que o crescimento do setor no Espírito Santo não foi maior por falta de incentivo do poder público – já que a atividade nunca esteve inserida entre as prioridades da economia capixaba, não tendo as condições mais adequadas para que se fortalecesse. Por isso, as grandes batalhas do segmento foram protagonizadas, muitas vezes, por cada um dos empresários de frigoríficos, que, na falta de incentivos para o setor, buscaram soluções individualizadas para os problemas que enfrentavam.
Ainda de acordo com Marim, isso fez com que muitos empresários que faziam parte do Sindifrio, desistissem de atuar na atividade e houve também empresas que mudaram do Estado. “O próprio fundados do sindicato, Hilário Toniato, quando faleceu já não atuava mais no setor. Ele é apenas um exemplo. Bons empreendimentos fecharam suas portas, uns saíram na atividade outros foram embora do Estado”, lamenta Marim.
Perspectivas de um futuro fortalecido
Se no passado cada empresário buscou resolver suas dificuldades individualmente, por não encontrar apoio, hoje, o principal desafio do sindicato continua sendo motivar essas indústrias a se encontrarem para discutir questões importantes para o segmento. “Em função das dificuldades do passado, os empresários foram buscando suas alternativas para se adequarem à realidade que lhes era imposta. E muitos deles deixaram de lado o hábito de participar das reuniões do Sindifrio”, comenta.
Por conta disso, a primeira luta e prioridade do Sindifrio nos próximos anos será aproximar os empresários das reuniões do sindicato. “Um dos nossos grandes desafios no momento, é arranjar algo interessante que motive os empresários a se unirem ao sindicato. Nossa prioridade é aproximá-los, para que, conhecendo de fato as dificuldades de cada um, possamos fazer um planejamento estratégico e atuar de acordo com as necessidades identificadas”, explica Elder Marim.
Como o setor não encontra no mercado a mão de obra qualificada necessária, o Sindifrio também pretende continuar trabalhando para trazer ao Espírito Santo, cursos de qualificação, que já existem em outros estados brasileiros. “Pretendemos expandir a parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Estamos tentando trazer para o Espírito Santo um curso na área de capacitação dos colaboradores para trabalharem com corte, que já existe em Santa Catarina. Mas isso tudo é um processo um pouco lento. Alguns cursos requerem local apropriado para serem oferecidos, então demanda um certo tempo para que seja preparada essa estrutura”, relata Marim.